A Organização das Nações Unidas (ONU) revelou mais detalhes sobre a razão de suas tropas de paz não terem evitado ou reagido ao estupro de mais de 150 mulheres e meninos no leste da República Democrática do Congo, a apenas 30 quilômetros da base onde estavam os soldados.
Uma das mais importantes autoridades da organização na região leste do país africano, Roger Meece, disse a jornalistas nesta quarta-feira que os soldados das tropas de paz tinham recebido informações de que os rebeldes tinham estabelecidos bloqueios nas estradas, mas sem nenhuma sugestão de que os ataques estavam ocorrendo.
Falando por meio de videoconferência de Goma, no Congo, Meece afirmou que patrulhas da ONU chegaram a passar duas vezes pelo principal vilarejo onde os estupros ocorreram, mas nenhum dos moradores contou aos soldados o que realmente estava ocorrendo.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, enviou um representante para investigar o incidente e uma sessão de emergência do Conselho de Segurança da organização foi convocada para esta quinta-feira. Além disso, Ban Ki-moon afirmou que está "escandalizado" pelos ataques.
Dez dias
Roger Meece afirmou que os soldados da ONU ficaram sabendo dos estupros apenas dez dias depois do ocorrido, quando foram informados por um grupo de ajuda humanitária.
Os estupros ocorreram durante dias entre o final de julho e começo de agosto na cidade de Luvungi e vilarejos próximos.
A autoridade da ONU não soube explicar o silêncio dos moradores da região em relação aos crimes e especulou que eles poderiam temer represálias dos rebeldes ou podem ter ficado envergonhados, devido ao estigma cultural que o estupro representa no país.
Mas, de acordo com com a correspondente da BBC na ONU Barbara Plett, o que ocorreu foi uma grave falha de comunicação, que foi ainda mais significativa já que os soldados das tropas de paz da ONU trabalham em uma pequena base de operações avançadas estabelecida justamente para aumentar o contato da ONU com os civis da região.
Plett afirma que os ataques de rebeldes congoleses e ruandeses foram particularmente cruéis até pelos padrões de um país no qual o estupro é usado como arma de guerra.
A ONU tenta proteger os civis nestas circunstâncias, mas alega que os soldados das tropas de paz enfrentam grandes desafios em um grande país com pouca infraestrutura e muitas gangues de rebeldes.
No entanto, a organização agora tenta descobrir o que deu errado neste caso e Roger Meece informou que a ONU está reavaliando todos os canais de comunicação com os vilarejos e e também os objetivos das patrulhas dos soldados das tropas de paz.
A República Democrática do Congo tem grandes reservas minerais e tem um longo histórico de conflito. O país enfrenta cinco anos de combates entre forças do governo apoiadas por Angola, Namíbia e Zimbábue e rebeldes, apoiados por Uganda e Ruanda.
Apesar de um acordo de paz e da formação de um governo de transição em 2003, a população do leste do país vive aterrorizada por milícias e soldados.
Fonte:BBC Brasil
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