A crise na Costa do Marfim espalha o temor de uma guerra civil na região. Nesta terça-feira (28/12), os presidentes de Benin, Serra Leoa e Cabo Verde são esperados em Abidjan, antiga capital da Costa do Marfim. Os chefes de Estado se reúnem com Laurent Gbagbo na tentativa de acalmar a situação.
Após as eleições presidenciais de 28 de novembro, a comissão eleitoral declarou o candidato da oposição, Alassane Ouattara, como vencedor. O conselho constitucional do país anulou a decisão da comissão e nomeou Laurent Gbagbo, antigo presidente e candidato da situação, como vitorioso.
A Ecowas, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, recomendou que Gbagbo deixasse o governo voluntariamente para que o vencedor das eleições, Alassane Ouattara, assuma o cargo. James Victor Gbeho, presidente da Ecowas, deixou clara a posição do grupo durante o encerramento da cúpula de crise, na última sexta-feira (24/12).
Ameaças de Gbagdo
"Se o senhor Gbagbo resistir à exigência da Ecowas, a comunidade não tem alternativa a não ser tomar novas medidas. E isso inclui o uso da violência legítima", declarou Gbeho. Ou seja: a ameaça da Ecowas é intervir militarmente na Costa do Marfim para permitir que Ouattara assuma a presidência como legítimo vencedor.
Gbagdo, no entanto, tenta intimidar e ameaça expulsar as Nações Unidas, mergulhando a população da Costa do Marfim numa guerra civil, com "consequências significativas" para os Estados vizinhos.
Paul-Simon Handy, do Instituto para Estudos Estratégicos na África do Sul, chama a atenção para o perigo das ameaças de Gbagdo. "O claro aviso aos líderes de Estados vizinhos é que qualquer intervenção nesta crise terá consequências para o seu próprio país."
Gbagbo também anunciou a expulsão de todos os imigrantes. Cerca de 26% da população da Costa do Marfim vem de países próximos. O poder econômico da Costa do Marfim atraiu, nos últimos anos, trabalhadores de Burkina Faso, Guiné e Mali. Eles trabalham em plantações de cacau, produto cujo maior produtor mundial é a Costa do Marfim, ou no porto de Abidjan, que já foi um dos mais importantes da África Ocidental.
Fuga da Costa do Marfim
Um agravamento da crise e a divisão da Costa do Marfim poderiam ter desdobramentos sérios para os países vizinhos. "Devido ao seu tamanho e à sua grande importância econômica, a Costa do Marfim é um país-chave para toda a África Ocidental. Se o país se tornar instável, isso terá influência direta sobre os demais países", analisa Paul-Simon Handy.
Outro problema que tem atingido os países vizinhos, especialmente a Libéria, é o fluxo de refugiados. Na última quinta-feira, a União Europeia anunciou disponibilizar um fundo de ajuda de 5 milhões de euros para os milhares de refugiados da Costa do Marfim que teriam fugido para países vizinhos como Libéria, Guiné e Gana.
A Acnur, Agência das Nações Unidas para os Refugiados, já registrou o êxodo de 14 mil mulheres, homens e crianças pela fronteira com a Libéria. E esse país, segundo Handy, não está apto a absorver essa corrente de refugiados. E ainda: o país se recupera de uma guerra civil que durou 14 anos.
"A paz na Libéria é muito frágil. Sabemos como foi difícil para a presidente Sirleaf manter a paz. Uma crise na Costa do Marfim poderia trazer risco para a paz conquistada arduamente na Libéria, especialmente se Gbagbo considerar Sirleaf como uma adversária", comenta Paul-Simon Handy.
Os dois países estão ligados não apenas pelo fluxo de refugiados. Mercenários liberianos também estão prestes a lutar na Costa do Marfim. A presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, alertou para que não lutem do lado de Gbabgo, como aconteceu no conflito de 2002.
Nos bastidores
Na opinião de Handy, a Nigéria é a força por trás da decisão da Ecowas, não apenas nessa crise. O país do oeste africano também tomou a frente em relação aos recentes conflitos em Níger ou na Guiné.
"A Nigéria busca a posição de não tolerar uma mudança inconstitucional de governo. A Nigéria quer resolver o problema, se for necessário, também com o uso da violência. Dessa forma, a Nigéria pode ser vista como uma força motriz que quer posicionar a Ecowas como uma instituição normativa no cenário político da África", pontua Handy.
Na última quinta-feira, a União Europeia anunciou disponibilizar um fundo de ajuda de 5 milhões de euros para os milhares refugiados da Costa do Marfim que teriam fugido para países vizinhos como Libéria, Guiné e Gana.
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