Humor Inteligente
Em mais uma saga literária eu esfolo meu cérebro para ver se é possível extrair algo de bom, às vezes até sai, mas eu nem tenho disposição o suficiente para escrever. Estava pensando em falar novamente da querida província e evitar tocar em política, mas é a mesma coisa que tomar coca-cola e não arrotar.
Estava eu a contemplar uma monótona tarde de domingo de Fortaleza quando vi dois bêbados passarem por mim. Um deles comentava que talvez Pelé não jogasse nessa copa pelo fato de Rivelino ter tido uma dor de dente (?), enquanto o outro, relutante, dizia em voz alta que a culpa era de Maradona (pior ainda). Nesse exato momento me tele transportei até o Templo Mor Dos Bêbados Vicentinos, o bar de “Xêro”.
É sobre este templo que quero dedicar estas singelas palavras.
Este tão distinto recinto deveria ser tombado (diferente de “botado a baixo”) pelo patrimônio histórico do estado, ou no mínimo Municipal, pois dali saiu os bêbados mais ilustres que já houve naquela longínqua província. Se dali não saíram (se formaram), mas um dia, certamente, entraram.
O bar de “Xêro”, mais conhecido como “Rancho”, era a parada obrigatória dos tropeiros que por ali passavam, na época em que a querida província era apenas uma província. Meu avô (Seu Zé “Filipe”) já passou muito por ali, mas apenas para descansar. De lá para cá se vão mais de 50 anos de história, mais de 50 anos de “água-ardente”, goladas e “goipadas” (ato de cuspir uma saliva grossa, que se forma na boca logo após uma tragada (das boas) num cigarro de “paia”).
Localizado na histórica rua “do bar de seu Mauro”, o bar de “Xêro” destaca-se pela peculiaridade de seus freqüentadores e de sua arquitetura moldada a um estilo que me parece ser uma coisa meio barroco-sertanejo, ou trocando em miúdos é basicamente uma casa de taipa, mas que esconde em suas manchadas paredes muitas estórias de chifre (contos cornianos), mentiras, potocas e lendas.
Sempre que passava em frente ao citado bar algo me chamava atenção, o mesmo sempre tinha algum cliente, nem que fosse implorando por um fiado, mas sempre tinha o som, um rádio gravador, sempre estava a tocar músicas de grandes mitos da música corniana, tais como Adelino Nascimento, Júlio Nascimento, Reginaldo Rossi e até Deda do Brega!Era freqüentado sempre pelas mesmas pessoas, o que me fez pensar por várias vezes que havia ali uma espécie de seleção natural, ou seja, os bêbados que ali bebiam não eram comuns, eram verdadeiros estandartes cachacianos.
Dalí saiu grandes nomes, são alguns deles: Babá, “Mei Tonhe”, Biu de Jolita, Nini (grande repentista municipalmente conhecido que desencarnou no início deste ano) Nil, Aldo, e algumas figuras ilustres que são Vips: ”Mosquito”, Neco Catombo, Renato de Zezim Basílio, finado João das Lábias, “Domeráro” (que teve sua vida ceifada da calçada do bar de Jorge Galdino), Rã, Zé Buchudo, Ouro 18 e o que recebe o título póstumo (merecia também o nome de rua ou um busto na praça no lugar de Sandoval) “Bêbado Ilustre”, o grande, o inoxidável, aquele que nem mesmo a terra há de comer-lhe de nossas memórias, o big, o grande, o monumental Mané Doido!
Mané Doido era um verdadeiro mestre de cerimônia, um cantor nato, e que por muitas vezes foi autoridade policial naquela província, multando carros e realizando “baculejos” nas “almas sebosas” que por ali rondavam. Mané Doido foi atropelado quando cavalgava em um de seus cavalos imaginários pelas estradas provincianas, crime este que até hoje está impune.
Por várias noites este baluarte humano animou as ruas da amada província, o público ia de crianças a adultos. Certa vez ele deixou um palhaço puto, numa noite de sábado num circo lotado devido ao fato do público achá-lo mais engraçado do que o artista circense.
Outro símbolo cachaciano vicentino era o folclórico Zé Buxudo. Assim como Mané Doido, Zé Buxudo possuía bens imaginários, os mesmos iam de modernos automóveis a instrumentos musicais. E foi diringido um de seus luxuosos carros que o grande Zé Buxudo tombou em plena PE-89 e findou-se mais um estandarte vicentino.
Assim como há o templo cachaciano de Xêro há também outros santuários clássicos espalhados por lá, tais como o bar de seu Jorge Galdino, o Bartipapo do grande Linha e tantos mais.
Essas figuras por mais toscas que possam parecer não devem ser esquecidas, se eram vítimas das dores da vida ou apenas cumpriram sua missão pouco se sabe, o que se sabe é que eram (e são!) seres humanos e que talvez por falta de atenção ou de oportunidade fincaram suas vidas num mundo marginal, dormindo nas calçadas e em alguns casos não mais acordando, como foi o grande Nini, que hoje talvez esteja tocando seu pandeiro em outra esfera da vida.
Que os bêbados sejam sempre lembrados, que os boêmios tenham sempre a noite e a lua como suas amantes e que o bar de Xero nunca feche suas portas!
E como diz o grande poeta, filósofo e fuleirósofo Falcão: “É vivendo que se VEVE”
Aproveitando as considerações finais, e relembrando as sábias palavras de um ilustre vereador da província: ”Os culpados não somos NOSES”
...mas NOSES estamos de olho!
Estava eu a contemplar uma monótona tarde de domingo de Fortaleza quando vi dois bêbados passarem por mim. Um deles comentava que talvez Pelé não jogasse nessa copa pelo fato de Rivelino ter tido uma dor de dente (?), enquanto o outro, relutante, dizia em voz alta que a culpa era de Maradona (pior ainda). Nesse exato momento me tele transportei até o Templo Mor Dos Bêbados Vicentinos, o bar de “Xêro”.
É sobre este templo que quero dedicar estas singelas palavras.
Este tão distinto recinto deveria ser tombado (diferente de “botado a baixo”) pelo patrimônio histórico do estado, ou no mínimo Municipal, pois dali saiu os bêbados mais ilustres que já houve naquela longínqua província. Se dali não saíram (se formaram), mas um dia, certamente, entraram.
O bar de “Xêro”, mais conhecido como “Rancho”, era a parada obrigatória dos tropeiros que por ali passavam, na época em que a querida província era apenas uma província. Meu avô (Seu Zé “Filipe”) já passou muito por ali, mas apenas para descansar. De lá para cá se vão mais de 50 anos de história, mais de 50 anos de “água-ardente”, goladas e “goipadas” (ato de cuspir uma saliva grossa, que se forma na boca logo após uma tragada (das boas) num cigarro de “paia”).
Localizado na histórica rua “do bar de seu Mauro”, o bar de “Xêro” destaca-se pela peculiaridade de seus freqüentadores e de sua arquitetura moldada a um estilo que me parece ser uma coisa meio barroco-sertanejo, ou trocando em miúdos é basicamente uma casa de taipa, mas que esconde em suas manchadas paredes muitas estórias de chifre (contos cornianos), mentiras, potocas e lendas.
Sempre que passava em frente ao citado bar algo me chamava atenção, o mesmo sempre tinha algum cliente, nem que fosse implorando por um fiado, mas sempre tinha o som, um rádio gravador, sempre estava a tocar músicas de grandes mitos da música corniana, tais como Adelino Nascimento, Júlio Nascimento, Reginaldo Rossi e até Deda do Brega!Era freqüentado sempre pelas mesmas pessoas, o que me fez pensar por várias vezes que havia ali uma espécie de seleção natural, ou seja, os bêbados que ali bebiam não eram comuns, eram verdadeiros estandartes cachacianos.
Dalí saiu grandes nomes, são alguns deles: Babá, “Mei Tonhe”, Biu de Jolita, Nini (grande repentista municipalmente conhecido que desencarnou no início deste ano) Nil, Aldo, e algumas figuras ilustres que são Vips: ”Mosquito”, Neco Catombo, Renato de Zezim Basílio, finado João das Lábias, “Domeráro” (que teve sua vida ceifada da calçada do bar de Jorge Galdino), Rã, Zé Buchudo, Ouro 18 e o que recebe o título póstumo (merecia também o nome de rua ou um busto na praça no lugar de Sandoval) “Bêbado Ilustre”, o grande, o inoxidável, aquele que nem mesmo a terra há de comer-lhe de nossas memórias, o big, o grande, o monumental Mané Doido!
Mané Doido era um verdadeiro mestre de cerimônia, um cantor nato, e que por muitas vezes foi autoridade policial naquela província, multando carros e realizando “baculejos” nas “almas sebosas” que por ali rondavam. Mané Doido foi atropelado quando cavalgava em um de seus cavalos imaginários pelas estradas provincianas, crime este que até hoje está impune.
Por várias noites este baluarte humano animou as ruas da amada província, o público ia de crianças a adultos. Certa vez ele deixou um palhaço puto, numa noite de sábado num circo lotado devido ao fato do público achá-lo mais engraçado do que o artista circense.
Outro símbolo cachaciano vicentino era o folclórico Zé Buxudo. Assim como Mané Doido, Zé Buxudo possuía bens imaginários, os mesmos iam de modernos automóveis a instrumentos musicais. E foi diringido um de seus luxuosos carros que o grande Zé Buxudo tombou em plena PE-89 e findou-se mais um estandarte vicentino.
Assim como há o templo cachaciano de Xêro há também outros santuários clássicos espalhados por lá, tais como o bar de seu Jorge Galdino, o Bartipapo do grande Linha e tantos mais.
Essas figuras por mais toscas que possam parecer não devem ser esquecidas, se eram vítimas das dores da vida ou apenas cumpriram sua missão pouco se sabe, o que se sabe é que eram (e são!) seres humanos e que talvez por falta de atenção ou de oportunidade fincaram suas vidas num mundo marginal, dormindo nas calçadas e em alguns casos não mais acordando, como foi o grande Nini, que hoje talvez esteja tocando seu pandeiro em outra esfera da vida.
Que os bêbados sejam sempre lembrados, que os boêmios tenham sempre a noite e a lua como suas amantes e que o bar de Xero nunca feche suas portas!
E como diz o grande poeta, filósofo e fuleirósofo Falcão: “É vivendo que se VEVE”
Aproveitando as considerações finais, e relembrando as sábias palavras de um ilustre vereador da província: ”Os culpados não somos NOSES”
...mas NOSES estamos de olho!
Petronio Maranhão
é membro do movimento Muda São Vicente
Provincia(Cidade situada no Interior de Pernambuco denominada São Vicente Ferrer)
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