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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Com o controle da mídia e o desencanto com a política convencional, cresce a busca por novas formas de organização social na Rússia

Uma das mais ativas e populares ONGs do país, o Balde Azul tem como objetivo lutar contra um dos principais símbolos de poder existentes na Rússia pós-soviética  (Foto: divulgação)
Uma das mais ativas e populares ONGs do país, o Balde Azul tem como objetivo lutar contra um dos principais símbolos de poder existentes na Rússia pós-soviética (Foto: divulgação)
Nos últimos anos, em razão do forte controle da mídia, principalmente a televisão, e da dificuldade de atuar politicamente por meio dos canais convencionais, vem crescendo a busca por formas alternativas de organização na Rússia. Mesmo com o rígido controle das manifestações de rua, o número de organizações não-governamentais (ONGs), que representam os mais diferentes grupos de interesse da sociedade, se multiplicou. De organizações de defesa do meio ambiente e dos direitos humanos a entidades de combate à corrupção e ao tráfico e uso de drogas, há de tudo. Calcula-se que 10% da população adulta, cerca de 12 milhões de pessoas, participem de alguma forma dessas organizações, que têm ampliado sua influência.
A ONG Balde Azul é uma das mais ativas e populares do país. Seu objetivo é lutar contra um dos principais (e mais odiados) símbolos de poder existentes na Rússia pós-soviética – a migalka, uma luz de emergência azulada, em forma de balde, com uma sirene, semelhante às usadas pelos carros de polícia e ambulâncias. Ela garante prioridade de circulação aos carros oficiais e funciona como um salvo conduto para eles fazerem o que quiserem no trânsito, como andar pela contramão em alta velocidade, desrespeitar o sinal vermelho e até subir nas calçadas, sem ser parados pela polícia.

Pelo código de trânsito da Rússia, o uso da luz azul deveria ser restrito aos serviços de emergência. Mas seu uso por autoridades, que teria se iniciado nos tempos de Yeltsin, acabou se consolidando. Hoje, de acordo com as estatísticas oficiais, existem 964 carros autorizados em todo o país a usar a luz azul, incluindo autoridades do alto escalão do governo, juízes e parlamentares. Mas extra-oficialmente fala-se na existência de 1,2 mil veículos privilegiados – ou até mais. Muitos funcionários do terceiro e do quarto escalão também já foram vistos usando o dispositivo e até quem não é do governo, por meio do pagamento de uma propina estimada em cerca de US$ 50 mil, pode conquistar o benefício. Há inúmeros casos de carros com a luz azul ligada que foram filmados a caminho de shopping centers e academias.

A ONG, criada em 2010, já organizou diversas carreatas e atos públicos s em que os participantes usavam um balde azul na cabeça ou na capota do carro em referência ao dispositivo. Mas as primeiras manifestações contra a luz azul começaram em 2006, após a condenação de um motorista a quatro anos de prisão, sob a acusação de ter provocado a morte de um governador por não ter saído de seu caminho rapidamente. Até agora, porém, o governo não deu sinais de que vai reavaliar o uso da luz azul no país. “Nós queremos acabar com o feudalismo nas ruas”, diz Sergey Kanaev, diretor-geral da Federação dos Proprietários de Carros, que participa do movimento. “A lei tem de ser igual para todos.”

Outra entidade que ganhou os holofotes nos últimos anos foi a Khimki Forest. A ONG está envolvida na luta contra a construção de uma nova estrada ligando Moscou a São Petersburgo pelo meio de uma floresta de carvalho de 200 anos, localizada na periferia da capital russa. Criada em 2007 e liderada pela engenheira Ievgenia Chirikova, de 34 anos, que foi morar na região em busca de melhor qualidade de vida quando estava grávida de sua segunda filha, a ONG conseguiu uma inusitada audiência com Medvedev no início de 2010. Mas nem o apoio do presidente, que pediu uma reavaliação do projeto, foi suficiente para impedir a construção da estrada, que deve entrar em operação no final de 2013. Em dezembro do ano passado, uma comissão do governo encarregada de avaliar o assunto concluiu que os aspectos econômico, legal e de urgência para o projeto se sobrepunham a todos os outros.

Em 2008, o editor-chefe de um jornal de oposição da região da floresta, Mikhail Beketov, que publicou reportagens envolvendo o recebimento de propinas pelas autoridades da região relacionadas ao projeto, sofreu um ataque brutal. No ataque, teve alguns dos dedos das mãos cortados e ficou impedido de andar, com uma perna amputada e metade do corpo paralisado. Um ativista da ONG também foi brutalmente atacado e hoje, segundo Chirikova, não consegue falar, nem se mover direito. “O governo chegou a mandar até uma assistente social na minha casa, alegando que tinha recebido uma denúncia de que eu não cuidava direito das minhas filhas e dizendo que iria tirá-las de mim”, afirma Chirikova. “Só não levaram minhas filhas, porque eu coloquei um vídeo sobre isso na internet e muita gente ligou para esse funcionário pedindo para ele não levar as crianças.”

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