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segunda-feira, 26 de março de 2012

O escândalo Veja

Quem com ferro fere com ferro será ferido, diz o imemorial  adágio sobre quem se vale de métodos espúrios para atingir a honra de alguém em benefício próprio ou de terceiros.
Pois uma enorme lâmina acaba de atravessar o fígado do semanário Veja, pródigo em assacar acusações contra desafetos do partido de José Serra, em particular membros dos governos legitimamente eleitos pelos brasileiros `a partir do encerramento do ciclo de poder  tucano em plano federal.
Investigações realizadas pela Polícia Federal sobre as atividades do mafioso Carlos Cachoeira levaram `a prisão de dois chantagistas ligados ao esquema de jogos de azar e a ninguém mais ninguém menos que ao chefe da sucursal da revista Veja em Brasília, Policarpo Júnior.
O acontecimento chega no pior momento para o Grupo Abril, empresa que pública o título, quando a queda de assinaturas devido ao esvaziamento de leitores para noticiosos na internet e a perda de grandes anunciantes tem levado seus sócios do grupo sul-africano Napsters a questionar a conveniência mercadológica da linha editorial da publicação.
O potencial explosivo dos fatos que vieram `a luz é proporcional `a notoriedade dos personagens envolvidos nos episódios, o senador da República Demóstenes Torres, presidenciável do DEM, e o governador tucano de Goiás Marconi Perillo. Todos com poderosos inimigos nos gabinetes palacianos e nos corredores do Congresso devido `as acusações de que já foram promotores na mídia.
E o efeito da explosão será o de revelar `a nação que tipo de vínculo afinal havia entre os dois principais partidos de oposição e a revista Veja: uma espécie de associação para o crime a fim de desestabilizar governos sufragados pelo voto em favor de partidos golpistas que, em troca, designava políticos corruptos para o acobertamento das fontes criminosas de informação.
Algo como a esfinge da cobra engolindo o próprio rabo, capaz de produzir escândalos de conveniência como o do chamado mensalão, que quase chegou a produzir um golpe branco contra Lula da Silva não fosse o apoio decisivo dos sindicatos e movimentos sociais a seu governo, e contra-dossiês cuja finalidade era a de desacreditar dossiês procedentes, como o que envolvia os crimes da família Serra, agora objeto de CPI no Congresso.
O escândalo que vem a tona agora imobiliza a revista Veja e a torna ainda mais dependente da tolerância do governo Dilma, a quem buscou impedir a vitória por todos os meios.
Compromete sobretudo o jogo que estava prestes a ser jogado a fim de impedir uma vitória avassaladora das forças políticas de apoio ao governo federal nas eleições municipais que se avizinham, o de usar o julgamento do caso do “mensalão” como instrumento de proselitismo político em favor das oposições.
Para essa nova armação já estavam a postos membros da corte superior de justiça do País, o STF, ligados ao senador integrante do bando de Cachoeira - que levariam a julgamento e condenariam ainda neste ano os apelados do PT - e a máquina de propaganda formada pela grande imprensa: Rede Globo, jornal Folha de São Paulo e a própria revista Veja.
Deverão pensar em outro estratagema rapidamente as oposições e seus sequazes na mídia para impedir que os brasileiros decidam como querem ser governados `a partir do ano que vem nas grandes cidades do País.
Fonte:BrasilqueVai 

Grampos da PF aproximam Cachoeira da Veja, diz site

DO PORTAL BR247
Divulgação
Uma informação bombástica acaba de ser postada no blog do jornalista Luís Nassif: a de que há mais de 200 ligações trocadas entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o redator-chefe da revista Veja, Policarpo Júnior. Duas semanas atrás, 247 foi o primeiro veículo a alertar para a prisão do araponga Jairo Martins, fonte contumaz da revista Veja em grandes escândalos, inclusive o do Mensalão. Outro jornalista que passou por Veja, Alexandre Oltramari, trabalhou na campanha para o governo de Goiás de Marconi Perillo, em 2010. Atuou em conjunto com o sargento Dadá, que, assim como Jairo, também está preso.
Leia, abaixo, o texto de Nassif:
''Não haverá mais como impedir a abertura das comportas: a Operação Monte Carlo da Polícia Federal, sobre as atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira, chegou até a revista Veja.
As gravações efetuadas mostram sinais incontestes de associação criminosa da revista com o bicheiro. São mais de 200 telefonemas trocados entre ele e o diretor da sucursal de Brasilia Policarpo Jr.
Cada publicação costuma ter alguns repórteres incumbidos do trabalho sujo. Policarpo é mais que isso.
Depois da associação com Cachoeira, tornou-se diretor da sucursal da revista e, mais recentemente, passou a integrar a cúpula da publicação, indicado pelo diretor Eurípedes Alcântara. Foi um dos participantes da entrevista feita com a presidente Dilma Rousseff.
Nos telefonemas, Policarpo informa Cachoeira sobre as matérias publicadas, trocam informações, recebe elogios.
Há indícios de que Cachoeira foi sócio da revista na maioria dos escândalos dos últimos anos.''

Coluna da segunda-feira do MAGNO

         Golpe por debaixo dos panos
A candidatura do secretário estadual de Governo, Maurício Rands, para tentar barrar em prévias no PT o direito do prefeito João da Costa de disputar a reeleição, é obra do governador Eduardo Campos (PSB), arquitetada, vale a ressalva, por debaixo dos panos.
Obra, não. É, na verdade, um golpe no PT, porque Rands há muito deixou de ser petista, encarnando em estilo, ação e na alma a mais ortodoxa figura do eduardismo no Estado. O golpe do governador pode não vingar, virar uma peça de ficção.
Rands não une o PT. Alguém, por exemplo, já viu alguma manifestação pública de apoio velado do deputado João Paulo à candidatura dele? E na Frente Popular de Armando Neto (PTB), Cadoca (PSC) e Eduardo da Fonte (PP)?
Principal líder do PT no Estado, João Paulo está com uma pulga atrás da orelha. E com razão! Apoiar Rands é entregar de bandeja ao PSB o poder que o PT detém no Recife há 12 anos, porque o candidato anti-João da Costa não se dobrará ao PT.
Nem tampouco à cartilha do partido, sendo, portanto, com a caneta na mão, um discípulo fiel e fervoroso do governador, já tão poderoso hoje, sem oposição, governando o Estado como se fosse líder de um partido único e soberano.
João, Armando, Cadoca e Eduardo da Fonte sabem, além do mais, que Rands eleito representa sua ascensão ao comando da Prefeitura por oito anos. Neste caso, para João Paulo, principalmente, seria adiar o projeto de voltar à PCR em 2020.
Se isso não fosse suficiente, paira no ar também a desconfiança de que, eleito prefeito do Recife, com um vice do PSB, Rands poderá dois anos após, em 2014, se transformar no candidato do governador à sua sucessão, passando a Prefeitura ao controle do PSB. Fala-se que o vice será Danilo Cabral.
Há uma palavra mais apropriada do que golpe por debaixo dos panos para esse desfecho?
Os petistas, coitados, que abram os olhos!
OSSO PAULISTA– A conversa do governador com o ex-presidente Lula, ontem, em São Paulo, foi para amarrar o apoio do PSB ao candidato do PT à Prefeitura paulista, Fernando Haddad. Recife passou longe da discussão, porque Eduardo já havia amarrado o acordo para enfiar Rands de goela-abaixo. Em São Paulo, não será fácil o PSB se coligar ao PT. O partido do governador ocupa cargos no Governo Alckmin e na Prefeitura com Kassab. E não quer largar o osso para entrar na aventura Haddad.
Rands no paredão - 
O prefeito João Costa emparedou o agora adversário Rands na festa de aniversário do empresário Janguiê Diniz, sábado passado. O eduardista ortodoxo disse que estava concorrendo para exercitar a democracia interna no partido, enquanto Costa retrucou afirmando que prévias só se justificavam se o PT estivesse na oposição.

Alternativos não apoiam - Aliado do senador Armando Monteiro Neto, porta-voz do grupo que defende uma candidatura alternativa a prefeito do Recife na Frente Popular, o deputado Sílvio Costa (PTB) não acredita na possibilidade de Rands unir o PT, mesmo que venha a ganhar as prévias. Por isso, adianta que o movimento alternativo, independente do fato novo, lançará o seu próprio candidato.
Henry sai candidato - O deputado Raul Henry resolveu, finalmente, que disputa a Prefeitura do Recife. Sexta-feira passada, numa reunião com aliados, já começou a traçar a estratégia de campanha sem alimentar expectativas de trazer para o seu palanque pré-candidatos da oposição, como Mendonça Filho (DEM), Raul Jungmann (PPS) e Daniel Coelho (PSDB).
Aventura em Olinda - 
O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, rebate a versão de que abandonou a pré-candidata do seu partido em Olinda, Terezinha Nunes. “Por que Jarbas e Mendonça, que negaram, respectivamente, o apoio do PMDB e do DEM não são responsabilizados? Terezinha não conseguiu construir apoios e não iríamos entrar numa aventura”, desabafou.

 CURTAS
ENCONTRO TUCANO– Pré-candidato a prefeito do Recife, o deputado tucano Daniel Coelho coordena, na próxima terça-feira, no Centro de Convenções, encontro com pré-candidatos do PSDB no Estado. O evento terá a participação do presidente nacional da legenda, Sérgio Guerra.
O VICE– A chapa do pré-candidato do PSB a prefeito de Petrolina, Fernando Bezerra Filho, já está fechada. Seu vice será o advogado Genedy Patriota, filho do deputado federal Gonzaga Patriota, que assumiu a presidência municipal do PSB.
PERGUNTAR NÃO OFENDE – O que dirá a executiva nacional do PT sobre o novo cenário no Recife remexido pelo governador?

A charge do dia

sexta-feira, 23 de março de 2012

Plantão do Blog-Urgente-Morre o humorista Chico Anysio

Ele estava internado em um hospital do Rio de Janeiro desde dezembro

Chico Anysio  (Foto: Marcos Porto/Photorio News)Chico Anysio (Foto: Marcos Porto/Photorio News)
Morreu no início da tarde desta sexta-feira, 23, o humorista Chico Anysio, aos 80 anos. Ele estava internado no hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, desde dezembro de 2011, quando deu entrada com pneumonia.
Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, o inconfundível Chico Anysio, foi um dos maiores humoristas que o Brasil conheceu, e com certeza deixará saudade e uma lacuna na comédia nacional. Chico nasceu em Maranguape, no Ceará, em 12 de abril de 1931. Era filho de Francisco Anysio, dono de uma empresa de ônibus, e de dona Haideé Viana de Oliveira Paula. A família se mudou para o Rio de Janeiro quando Chico tinha seis anos de idade.
Saúde debilitada
Em maio de 2009, ele anunciou no seu blog que pararia de escrever na página, por conta de um enfisema pulmonar. "Em dois dias eu envelheci, quando pouco, cinco anos. Então resolvi tomar uma decisão a meu favor e tomei: estou de saída. Vou parar com todas as coisas que não sejam obrigatórias, e escrever esses textos é uma delas", escreveu o humorista. Ele ainda acrescentou: "A vida está aí para que nós a aproveitemos, mas a verdade é que eu estou de saída. Vou viver em função do meu adorado enfisema. Digo adorado porque pelo tanto que eu fumei, eu poderia perfeitamente ter tido um câncer.”


Filho de mãe cardíaca, em agosto de 2010 Chico Anisyo havia feito uma uma cirurgia para desobstruir o intestino. Em dezembro de 2010, ele foi internado com quadro de falta de ar e obstrução em uma artéria coronária e um tamponamento cardíaco, que acontece quando o sangue se acumula entre as membranas que envolvem o coração (pericárdio). Chico foi submetido a uma angioplastia, procedimento que desobstrui as artérias. O quadro foi agravado por uma pneumonia.

Após três meses e meio, ele teve alta. "Sirene ligada. Estou na ambulância levando o meu amor para casa. Como eu previa!”, escreveu Malga Di Paula, mulher de Chico, no Twitter. "Nossa chegada foi linda! Todos os empregados e amigas queridas na portaria do edifício aplaudindo a chegada de Chico. Eu só chorava de emoção", postou Malga na ocasião.
Em novembro de 2011, Chico foi internado mais uma vez, devido a fortes dores na coluna. Quatro dias depois, teve alta. No início de dezembro, o humorista voltou ao hospital, desta vez por causa de uma pneumonia e uma infecção por fungo. O problema teria relação com uma infecção urinária. "Ele teve febre na semana passada foi para o hospital. Ainda não há previsão de alta, mas está tudo sob controle", informou a assessoria do artista na ocasião. Nos meses seguintes, o humorista teve complicações nas funções renal e respiratória. Ele estava sedado e respirando com a ajuda de aparelhos.
Talento precoce
Já na infância, Chico imitava pessoas, fazia piadas e era atração na escola. Aos 14 anos, começou a ir aos programas de calouros do Rio e, depois, em São Paulo. Vencia todos. Foi ao “Programa Ary Barroso”, ao “Hora do Padre” e ao “Trabuco”, de Vicente Leporace, entre outros.
Na adolescência, fez de tudo um pouco: passou no curso de Direito (mas não cursou), foi galã de novela, escritor, compositor e pintor. Iniciou no rádio na Rádio Guanabara, onde exercia várias funções, e seguiu no meio radiofônico em diversos programas. Nas chanchadas da década de 50, passou a escrever diálogos e, eventualmente, atuava em filmes da Atlântida Cinematográfica.
Na TV Rio, estreou em 1957 o “Noite de Gala”. Em 1959, estreou o programa “Só Tem Tantã”, mais tarde chamado de “Chico Total”. Além de escrever e interpretar seus próprios textos no rádio, na televisão e no cinema, sempre com humor fino e inteligente, se aventurou por outras áreas, como jornalismo esportivo, teatro, literatura e pintura, além de ter composto e gravado algumas canções.
Sucesso nacional
O maior destaque nacional de Chico Anysio veio com seus quadros e programas cômicos na Rede Globo, onde trabalhou ao lado de renomados profissionais do segmento, como Paulo Gracindo, Grande Otelo, Costinha, Jô Soares, Agildo Ribeiro, Ivon Curi, dentre tantos outros. Em 1957, criou a “Escolinha do Professor Raimundo”, na qual vivia o sábio e cômico professor Raimundo, apenas um de seus mais de 200 personagens na TV. Mas somente em 1969 foi para a Rede Globo.
Na emissora, fez “Chico Anysio Show”, “Chico City”, “Estados Unidos de Chico City”, “Chico Total” e, mais recentemente, “Zorra Total”, se tornando o número 1 entre os comediantes.
Família
O comediante se casou seis vezes, sendo que sua última mulher foi a empresária Malga Di Paula. Teve nove filhos - oito homens e apenas uma mulher - e 11 netos. O mais velho dos filhos de Chico é Duda, de 55 anos. Depois vieram Lug de Paula, de 53, de seu relacionamento com Nanci Wanderley, e Nizo Neto, 46, e Ricardo, 40, do casamento com Rose Rondelli.
André Lucas, de 41 anos, foi adotado. Cícero, 27, é filho da ex-Frenética Regina Chaves. Bruno Mazzeo, 33, é filho de Alcione Mazzeo. Rodrigo e Victoria, de 17 e 15 anos, respectivamente, são de seu casamento com a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello.

Novelas e Cinema
Chico começou sua carreira como galã, trabalhando com nomes como Grande Otelo. Apesar de ter dedicado sua carreira basicamente aos programas humorísticos, também participou de diversas novelas ao longo da vida, como “Que Rei Sou Eu?” (1989), “Terra Nostra” (1999), “Sinhá Moça” (2006), “Pé na Jaca” (2007) e “Caminho das Índias” ( 2009).
No cinema, participou de “O Mundo Mágico dos Trapalhões” (1981), “Tieta” (1986), “Se Eu Fosse Você 2” (2009) e “Uma Professora Muito Maluquinha” (2010). Também foi o dublador do protagonista "Carl", do filme Up - Altas Aventuras, longa de animação de 2009 da Disney & Pixar.

Escritor e pintor
Chico Anysio também era escritor, com 15 livros lançados e 12 a serem editados. Também pintava telas com tinta a óleo, chegando a somar 300 quadros por ano. Disciplinado, trabalhava cerca de quatro horas por dia, para dar conta de fazer tudo
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A fome no mundo é um problema político

Em tese, há alimentos para todos. Se mesmo assim uma em cada sete pessoas passa fome, pode-se dizer que essa é uma situação politicamente tolerada, argumenta a editora-chefe da Deutsche Welle, Ute Schaeffer.
Crianças na Etiópia dependem de ajuda
Um mundo sem fome, com 7 bilhões de pessoas bem alimentadas e bem nutridas, seria possível. Nosso planeta produz alimentos suficientes. A fome não é um problema causado pela natureza ou cuja razão está apenas nas crises. A fome é politicamente tolerada. Ela é aceita porque há "coisas mais importantes", por exemplo as vozes dos consumidores e agricultores europeus.
Se nós, europeus, levássemos mesmo a sério nossos sermões sobre solidariedade, teríamos que cortar os subsídios agrícolas no continente, revolucionar os sistemas de comércio e aumentar o preço dos alimentos nos países industrializados.
As vozes dos famintos, contudo, não contam. Eles não têm lobby. Passa-se fome sobretudo – por mais bizarro que isso soe – nas regiões onde os alimentos são produzidos, ou seja, no campo, onde as pessoas vivem da agricultura familiar e não têm seus interesses representados nas instituições econômicas multilaterais.
Quando se fala de acordos econômicos e fluxos comerciais globais, essas pessoas não têm voz. Embora sejam numerosas: ainda hoje quase metade da população mundial vive direta ou indiretamente do cultivo de alimentos. Essa grande maioria silenciosa nos países em desenvolvimento paga o preço do nosso sistema econômico: em todo o mundo 1 bilhão de pessoas passam fome ou estão subnutridas.
Bons argumentos por uma política diferente
Ute Schaeffer, editora-chefe da DW-WORLD.DE
Os políticos europeus dão sempre a impressão de não saber o que fazer e perguntam como explicar aos eleitores europeus uma mudança tributária em prol dos mais pobres.
Acredito que isso nem seria tão difícil. Se me permitem algumas sugestões: expliquem aos eleitores que o combate à fome serve também à segurança de nossos interesses e de nosso bem-estar! Pois como é que a Europa pretende lidar com os potenciais 150 milhões de refugiados da fome da África subsaariana, que poderão emigrar a partir do ano de 2020?
Expliquem aos eleitores que não queremos pagar impostos duas vezes. Pois hoje consertamos com recursos e projetos destinados à ajuda ao desenvolvimento o que nossa política econômica e nossa ordem econômica mundial destroem. E, como resultado, não produzimos nada, exceto novas formas de dependência entre o mundo desenvolvido e o não desenvolvido. Isso sem contar os ridículos subsídios a uma agricultura não sustentável no Norte.
Beneficiários da fome
Fala-se muito das consequências humanitárias da fome. Mas quem fala daqueles que ganham com a fome? Isso também precisa ser dito com todas as letras: há quem se beneficie desse sistema que produz fome. E essas pessoas somos sobretudo nós, consumidores, que gastamos hoje menos pelos alimentos do que gastávamos há 20 anos. Gostamos de comprar pão por 1 euro e leite por 70 centavos de euro, e dizemos a nós mesmos que alimentos não podem custar caro.
Há 100 anos, os consumidores na Alemanha gastavam dois terços de sua renda com alimentos; hoje são apenas 20%. Entre os que tiram vantagem disso estão os agricultores europeus, que produzem muito além da demanda do mercado e mesmo assim não precisam se preocupar. Altos subsídios lhes garantem uma renda confortável e uma ampla retaguarda política. Os agricultores nos países em desenvolvimento nem ousam sonhar com uma situação como essa.
Entre aqueles que se beneficiam da fome estão também os grandes grupos de agronegócios, que massacram todos os mercados com suas sementes e respectivos agrotóxicos. E também as elites nas capitais do Hemisfério Sul. Em muitas regiões, a política é feita sobretudo para agradar à própria clientela e aos eleitores nas capitais. Ali se decide, por exemplo, quantos recursos serão destinados ao desenvolvimento do campo.
Investimentos no desenvolvimento de regiões interioranas e na agricultura são considerados retrógrados. Países em que 80% do PIB vêm da agricultura acreditam que podem viver sem uma política agrária! Ou ainda mais grave: um país com as dimensões de terras férteis como Moçambique, por exemplo, poderia exportar arroz ou milho para todo o sul do continente africano. Em vez disso, os moçambicanos dependem de importações caras, simplesmente porque a elite política local não se interessa por esse problema.
Alemães gastam hoje apenas 20% de sua renda com alimentação
Em situações como essa, é preciso realizar um trabalho de convencimento, em todos os encontros de cúpula bilaterais e em toda conferência internacional. E isso os países industrializados só vão alcançar quando os países em desenvolvimento estiverem cientes das vantagens que terão, ou seja: mais possibilidades de exportação do que aquelas que eles têm hoje, acesso aos mercados europeus e preços justos de produtos agrícolas no mercado internacional.
Bela mentira do mundo do bem-estar
Quem também se beneficia com a fome são os especuladores do mercado alimentício. Alimentos básicos transformaram-se em objetos de especulação, cujos preços aumentaram em torno de 30% no segundo semestre de 2010. Um mercado lucrativo, ao qual aderem investidores e especuladores, enquanto as pessoas de Porto Príncipe, Dhaka ou Agadez ficam a ver navios por não poderem pagar seus altos preços.
Vamos acabar com as belas mentiras do nosso mundo de bem-estar: a fome e a miséria são causadas apenas em parte por guerras ou catástrofes. E são raramente apenas um problema da população urbana pobre. Não! A fome é o resultado de uma exclusão que é no mínimo tolerada por amplas parcelas da população. As necessidades e penúrias de quem passa fome são colocadas de lado, politicamente apagadas por todos aqueles que se beneficiam com o problema.
Cereais: de alimento básico a objeto de especulação
Após décadas de dependência e exploração pelas potências coloniais, foram impostos aos países africanos independentes, nos anos 1980, ajustes estruturais radicais por parte do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial: liberalizar, desregular e privatizar eram as palavras de ordem. Essa política, contudo, foi implementada em países sem infraestrutura, sem capital de conhecimento, sem uma economia em funcionamento e sem investidores nacionais. As consequências foram catastróficas, especialmente para a agricultura, mas também para os setores de educação e saúde.
Segurança do mundo desenvolvido em perigo
Com indiferença e ignorância – é assim que a comunidade internacional lida com o escândalo da fome no século 21. Um erro fatídico, não somente por razões morais. Não devemos subestimar a força dos pobres e famintos, e tampouco seu potencial político explosivo. Em 2008, os altos preços dos alimentos já provocaram revoltas dos famintos, desde o Camarões até o Egito. Já nos próximos dez anos, isso nos custará bilhões em forma de programas de ajuda e reparação. A fome põe em risco a estabilidade política – primeiro nas regiões aingidas, depois na Europa.
Quem compreende as correlações envolvidas conclui forçosamente que é necessária uma mudança política radical. Nenhuma reparação, nenhuma ajuda emergencial, nenhuma promessa decorativa, proferida num encontro de cúpula e pouco depois esquecida, será capaz de deter a erosão social e econômica provocada pela fome e pela pobreza em todo o mundo. Da mesma forma que os agricultores no Hemisfério Sul são dependentes de regras comerciais justas e preços justos, as sociedades ricas do Norte são dependentes da estabilidade política e econômica das sociedades do Sul, que crescem rapidamente.
Precisamos adiar nossos interesses de curto prazo – mais crescimento, mais conforto –, para que ninguém mais morra de fome. Já transcorreram mais de quatro décadas desde que o então secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, prometeu numa conferência internacional sobre a alimentação: "Em uma década, nenhuma criança precisará mais ir para a cama à noite com fome". Hoje, continuamos mais distantes do que nunca desta meta. Um verdadeiro atestado de pobreza!
Autora: Ute Schaeffer (sv)
Fonte:DW

Como ler e compreender a Bíblia

Novas estratégias de interpretação das Escrituras podem aprofundar a vida do fiel com Cristo. Por ser um livro extenso, mesmo os leitores mais cuidadosos podem interpretá-la de muitas maneiras.
Por J. Todd Billings
Muitas vozes têm se levantado – e com razão – para dizer que uma crise de interpretação bíblica está em curso. Embora a Bíblia Sagrada seja o livro de maior circulação no mundo e os cristãos, estimados em mais de 2,3 bilhões de pessoas, sejam o maior grupo religioso do planeta, é preciso salientar que tal crise não envolve exatamente o declínio do número de leitores que reconhecem a autoridade das Sagradas Escrituras como Palavra de Deus. O problema é de outra natureza, bem mais sutil – e preocupante. Acontece que muitos que leem e interpretam o livro sagrado da fé instituída por Jesus não o fazem, necessariamente, do ponto de vista cristão.
Em tempos de pragmatismo exacerbado em praticamente todas as áreas de atividade humana e de uma crescente importância ao chamado bem estar do indivíduo, mais e mais pessoas têm enxergado a Bíblia como uma espécie de panaceia para todos os males e angústias. Textos e princípios da Palavra de Deus são empregados ao arrepio da boa hermenêutica, no objetivo de estimular, e até mesmo justificar, mesmo as práticas mais mesquinhas. Livros, pregações e palestras de cunho cristão prometem soluções bíblicas para se ter sucesso nas finanças, boa saúde, relacionamentos amorosos bem sucedidos – vitória, enfim, em todas as áreas. Assim, cada crente é incentivado a ver aplicações práticas de sua fé em vários aspectos da vida, com se a Bíblia fosse um “livro-resposta” para toda a sorte de necessidades e problemas.
Entretanto, esse tipo de mensagem, centrada no indivíduo e em suas preferências, carece de uma interpretação da Bíblia como um livro que questiona as necessidades essenciais do ser humano ou que aponta para muito além delas. E não são apenas os escritores e preletores bem-intencionados que falham em oferecer uma abordagem bíblica realmente cristã. Vários estudiosos interpretam as Escrituras como parte da História antiga, utilizando-a somente como mais um elemento para responder a questões arqueológicas e sociológicas sobre a Antiguidade. Outros tentam reconstruir o pensamento de um livro ou de um autor específico à luz da modernidade. Há quem seja capaz de escrever profundos ensaios sobre a teologia de Paulo sem considerar, em momento algum, que Deus esteja falando às pessoas de seu tempo por meio dos textos antigos do apóstolo – sem falar naqueles que procuram fazer uma correlação entre o contexto histórico de uma passagem com o mundo atual, mas, inadvertidamente, sugerem que muitos cristãos não são capazes de entender a Palavra de Deus por não terem a necessária formação acadêmica.
Em parte, devido a inadequações tanto na leitura popular quanto acadêmica da Bíblia, um número crescente de estudiosos passou a defender o que chamam de “interpretação teológica das Escrituras”. Eles incentivam uma leitura do texto bíblico como instrumento de autorrevelação divina e de salvação do homem por meio de Jesus, enredo central de toda a narrativa do Antigo e do Novo Testamento. Esta escola de interpretação inclui uma grande variedade de práticas, mas todas elas visam a promover o conhecimento do Deus Trino e o discipulado cristão por meio das Escrituras.
Quando se examina a interpretação bíblica, é preciso prestar atenção à chamada teologia funcional, ou seja, o fato de que a maneira como se usa a Bíblia reflete as convicções que se têm a respeito dela. Existem, basicamente, duas abordagens comuns para a utilização das Escrituras. Alguns leitores se voltam para a Bíblia como se tivessem em mãos o projeto de construção de um prédio. Em seguida, passam a tentar encaixar passagens isoladas como se fossem os tijolos. Tal prática parte do princípio de que já se sabe o sentido maior das Escrituras – portanto, a tarefa de interpretação bíblica se torna uma questão apenas de descobrir onde determinada passagem se encaixa no sistema teológico defendido por cada um.
Outros preferem uma abordagem do tipo self-service. Nesta ótica, muito empregada hoje em dia, a Palavra de Deus é como um enorme buffet de comida a quilo – cada um escolhe o que vai consumir à vontade, de acordo com suas preferências teológicas e interesses. Em ambas os casos, tanto o do projeto de construção quanto o do self-service, as Escrituras são usadas no sentido de atender a um propósito pessoal. Quem está no controle é o usuário; ele pode até reconhecer a autoridade bíblica, desde que ela confirme suas ideias preconcebidas ou o abasteça com conselhos divinos acerca de suas necessidades. Os leitores que trazem consigo seu próprio projeto pré-concebido acreditam que não se pode ler as Sagradas Escrituras sem trazer à tona algum entendimento. Já os do tipo self-service acreditam que a Bíblia é um livro pelo qual Deus fala diretamente com eles.
 
 
“REGRA DE FÉ”
Uma leitura teológica das Escrituras faz uso das duas suposições, embora de uma forma muito mais profunda e completa. É como se, em vez de fornecer ao leitor um projeto detalhado, a análise teológica da Bíblia trouxesse uma espécie de mapa de viagem. Tal mapa, entretanto, não nos oferece todas as respostas sobre qualquer texto em particular. Em vez disso, a leitura é o começo de uma jornada na qual Deus, através de sua Palavra, vai ao encontro do indivíduo repetidas vezes, trazendo reconfortantes sinais de sua presença e surpresas que podem até confundir, mas também descortinam novas perspectivas. A leitura bíblica, portanto, não tem a ver com a montagem de um quebra-cabeças, mas com a resolução de um mistério. Através das Escrituras, encontramos nada menos que o misterioso Deus Trino, em pessoa.
Os primeiros cristãos também ensinavam que os seguidores de Jesus deveriam aproximar-se das Escrituras com uma espécie de mapa teológico básico em mãos. Por volta do segundo século, Irineu falou sobre a “regra de fé”, como forma de entender os princípios básicos com os quais os crentes ortodoxos (em oposição aos gnósticos) deveriam aproximar-se da Palavra de Deus. Essa regra de fé não foi criação de algum estudioso em particular, mas provinha do Evangelho e da identidade cristã, fundamentada no batismo: quem lia as Escrituras o fazia como seguidor de Jesus, batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Assim, os primeiros credos batismais, ou declarações de fé, tinham um caráter trinitário – como o Credo Apostólico, por exemplo – e forneceram o conteúdo básico da regra de fé.
Mas por que isso foi e é necessário? A Bíblia é um livro extenso, e mesmo os leitores mais cuidadosos podem interpretá-la de muitas e diferentes maneiras. Contudo, nem todas essas formas de interpretação são, de fato, cristãs, na plena acepção da palavra. Por exemplo, uma pessoa pode ler a Bíblia de modo que veja o Deus de Israel apenas como um juiz, ou seja, uma antítese do Pai gracioso apresentado nos evangelhos. Mas esta não é a leitura cristã nem do Antigo nem do Novo Testamento. Nos primeiros séculos do cristianismo, a regra de fé ajudou a assegurar que os cristãos mantivessem a conexão entre as duas partes das Escrituras, uma visão ampla na qual o Deus da Criação e da Aliança, revelado aos patriarcas e à nação de Israel, é também o Deus revelado em Jesus Cristo.
A regra de fé, baseada na crença no Deus Trino, tem sido um elemento crítico para a leitura da Bíblia desde a Igreja Primitiva, passando pela Idade Média e pela Reforma Protestante. Os reformadores enfatizaram que a Escritura (e não a tradição da Igreja) era a única e definitiva regra de fé. Lutero, Calvino e outros confirmaram isso, de forma clara e entusiástica, ao defender uma abordagem das Escrituras com base na Trindade. Ao interpretar o Velho Testamento assim como o Novo, os reformadores buscavam ler as Escrituras à luz de Cristo, como o cumprimento das promessas de Deus na Criação e na Aliança, aplicando esse princípio à Igreja e aos discípulos de Jesus. Segundo muitos estudiosos contemporâneos, essa regra de fé trinitária básica estabelece as bases apropriadas para a interpretação da Bíblia como o livro-texto do cristianismo.
A regra de fé, neste sentido, é o que nos dá a percepção do que é central e do que é periférico em termos de interpretação bíblica. Ele não define com antecedência o significado de determinadas passagens; em vez disso, fornece ao leitor uma melhor percepção da esfera em que se dá a jornada da leitura da Bíblia, forjando um caminho para uma comunhão mais profunda com o divino. O novo mundo em que Deus nos coloca por meio das Escrituras é vasto e amplo, mas também tem um caráter específico. É uma jornada pelo caminho de Jesus Cristo, pelo poder do Espírito, uma antecipação do clímax da comunhão final com o Deus Trino.
Mas e a questão da necessidade de conhecimento especializado para a correta interpretação teológica das Escrituras? Ao mesmo tempo que alguns adeptos do movimento da interpretação teológica nos encorajam a um envolvimento maior com comentaristas pré-modernos e com a moderna crítica bíblica, eles também têm grande confiança na capacidade das congregações comuns de se aproximarem das Escrituras como sendo a Palavra de Deus. Duas dinâmicas são, muitas vezes, ignoradas nas interpretações bíblicas contemporâneas, especialmente, aquelas baseadas em suposições histórico-críticas. A primeira é a obra do Espírito de trazer luz à Escritura; a segunda, a interpretação bíblica “em Cristo”.
Congregações cristãs em todo o mundo cultivam uma percepção dessas duas realidades quando oram pela iluminação do Espírito, quando adoram a Deus ou quando aplicam as Escrituras na vida da comunidade em forma de discipulado e testemunho. É claro que essas práticas não são garantia de uma hermenêutica fiel, porém são dinâmicas indispensáveis para interpretar a Bíblia como, de fato, Escritura Sagrada. Isso porque a presença do Espírito em uma comunidade cristã, estabelecida em Jesus, tem a capacidade única de equipar esse grupo para interpretar a Bíblia como Palavra de Deus.
 
IDENTIDADE EM CRISTO
Acontece que aproximar-se da Bíblia com tais pressupostos teológicos é considerado anátema para muitos teólogos da atualidade. Eles supõem que as convicções teológicas opõem-se à fiel interpretação bíblica, ao invés de ser sua potencial aliada. Há uma preocupação genuína por trás dessa objeção: a de que a teologia deve ser extraída da Bíblia, e não imposta ao texto escriturístico. Aqueles que fazem esse tipo de objeção, normalmente, partem do pressuposto de que não somos capazes de ser imparciais em nossa interpretação, mas sim, que a Bíblia é que deve dar uma espécie de suporte a nossas conjecturas teológicas.
Embora seja correto procurar extrair da Bíblia a nossa teologia (e não o contrário), outros estudiosos observam que as convicções teológicas e as práticas religiosas, como a adoração, tornam a leitura bíblica mais frutífera. Como afirma R.R. Reno, no seu prefácio ao Comentário Brazos, a doutrina teológica “é um aspecto crucial da pegagogia divina, um agente de esclarecimento para nossas mentes turvadas pelos enganos”. Naturalmente, uma leitura teológica da Escritura pode conter também armadilhas. Mas a solução, definitivamente, não é deixar o estudo da Bíblia somente para os especialistas acadêmicos. Pelo contrário – é recuperar a perspectiva do lugar das Escrituras em meio à obra de redenção divina e abraçar a tarefa de ler o texto bíblico com abertura suficiente para que Deus possa reformar e remodelar nossa caminhada. Assim, faremos morrer o velho homem e dar espaço a uma nova identidade em Cristo.
Devemos também evitar o outro extremo: interpretar a Bíblia sozinhos, sem qualquer ajuda. Em nossos dias, muitos acreditam que o indivíduo pode ser um intérprete “todo-poderoso” do texto sagrado – não haveria necessidade de consultar o que dizem os comentaristas nem tampouco estar integrado a uma comunidade de fé. Apenas o indivíduo, a Bíblia e o Espírito Santo bastariam. Embora, por vezes, o dito reformado Sola Scriptura seja usado para justificar tal procedimento, ele é, na verdade, uma grave distorção desse princípio protestante. Os principais exegetas da Reforma consultaram o que outros escreveram através dos tempos, bem como aprimoraram seus conhecimentos das línguas bíblicas e se aperfeiçoaram em outras habilidades necessárias à correta hermenêutica.
O movimento da interpretação teológica das Escrituras busca reunir o que a modernidade dividiu: o discipulado e o estudo bíblico crítico. Agostinho, em sua obra intitulada Sobre o ensino cristão, afirma que Jesus Cristo, como o Deus-humano encarnado, é a “estrada” para nossa pátria celestial. Assim, toda interpretação da Escritura deve ser necessariamente feita à luz de Jesus Cristo – e conduzir ao nosso crescimento no amor a Deus e ao próximo. Paralelamente, Agostinho destaca que ter conhecimento do grego e do hebraico é muito importante para a interpretação das Escrituras. Em pleno século 5, Le já dizia que a leitura bíblica agrupa as disciplinas da história, da retórica, da lógica e do que modernamente chamaríamos de antropologia cultural.
Assim como Agostinho, o movimento da interpretação teológica tem buscado aproximar o discipulado cristão do estudo acadêmico das Escrituras. Desta maneira, mesmo narrativas extremamente ligadas ao contexto cultural e religioso no qual foram escritas ganham novos contornos. As passagens dos evangelhos que se referem aos fariseus, por exemplo. À primeira vista, as repreensões de Jesus àquele grupo não dizem respeito ao leitor moderno. Mas o estudo histórico tem mostrado que os fariseus não eram apenas legalistas estereotipados – eles buscavam de fato uma renovação na obediência à Lei da Aliança, a partir das promessas de Deus para Israel. É verdade que pensavam diferente de Jesus e dos primeiros cristãos, mas também é certo que havia aspectos comuns entre eles.
Assim, quando pensamos estar livres de quaisquer implicações das duras palavras de Jesus aos fariseus, o raciocínio em perspectiva histórica nos ajuda a, mais uma vez, a aplicar em nossas vidas a mensagem (sempre tão pungente) da Palavra de Deus. Em termos mais gerais, pode-se dizer que o estudo crítico ajuda os leitores a evitarem erros que atrapalhem uma leitura bíblica frutífera. Tais equívocos podem ser mal-entendidos quanto aos tipos bíblicos ou equívocos de interpretação de natureza linguística ou cultural. Daí a importância do conhecimento das línguas originais e de crítica textual. Embora tais elementos não sejam imprescindíveis à apropriação dos conteúdos espirituais da Palavra de Deus, eles fornecem caminhos seguros para uma hermenêutica mais fundamentada. Como Agostinho sugeriu, vários métodos interpretativos são válidos. Entretanto, eles precisam conduzir a uma compreensão da Bíblia como a poderosa Palavra de Deus e a um entendimento da Igreja como uma comunidade de discípulos, que cresce à imagem de Cristo.
 
VIVER PELA PALAVRA
Uma característica fundamental de muitos trabalhos na área da interpretação teológica tem sido o renascimento de formas de interpretação bíblica essencialmente simbólica. Sob esse ponto de vista, o Antigo Testamento não tem apenas um sentido histórico – como querem muitas correntes –, mas também espiritual, que se estende a Jesus e à sua Igreja nos dias de hoje, na forma de alegorias ou tipologias essenciais à vida cristã. Ao longo dos últimos dois mil anos de cristianismo, raramente os exegetas deixaram a figura de Jesus fora de sua leitura do Antigo Testamento. Assim, a narrativa da primeira parte da Bíblia Sagrada continuou a ter integridade, mesmo quando significados “espirituais” referentes a Cristo foram sobrepostos a ela.
Esta abordagem do Velho Testamento está baseada no próprio Novo Testamento, que nos dá bons exemplos dela. Para os escritores neotestamentários, não é apenas um salmo ou profecia messiânica ocasional que se aplica a Cristo – eles leem todas as Escrituras de Israel sob a perspectiva do advento e da obra salvadora do Filho de Deus. Por exemplo, o livro de Hebreus começa com sete citações de textos do Antigo Testamento a partir de diversos contextos (Salmos, Deuteronômio e II Samuel); no entanto, é inegável que todas elas se aplicam a Cristo. Isso não se deve à hermenêutica particular do autor da epístola, mas a seu entendimento de quem é Cristo no plano de salvação de Deus: “Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo. O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser” (Hebreus 1.1-3, na Nova Versão Internacional).
O Filho foi o cumprimento de diferentes passagens do Antigo Testamento. Embora, nas palavras do escritor, ele não tenha sido reconhecido como verdadeiro Messias em seus dias, o Filho é o Criador e também é o “herdeiro de todas as coisas” – e, em Jesus Cristo, deu-se a conhecer na história humana. Isso significa que uma leitura espiritual do Antigo Testamento não pode aniquilar a sua narrativa em si. Quando o Jesus ressurreto abriu o entendimento de seus companheiros no caminho de Emaús “para entender as Escrituras”, ele não disse que a lei de Moisés, os escritos dos profetas e os Salmos tinham sido descartados, mas sim, que estavam se cumprindo nele (Lucas 24.44-45).
Como observa John Webster, teólogo da Universidade de Aberdeen, na Escócia, e um dos maiores defensores da interpretação teológica, a “leitura das Escrituras é um episódio na história do pecado e de sua superação; e vencer o pecado é a obra única obra de Cristo e do Espírito”. Assim, de acordo com esse raciocínio, a leitura bíblica está inevitavelmente ligado à regeneração.  Como tal, lemos a Bíblia esperando receber uma palavra divina – tanto de conforto, quanto de confronto. A Palavra de Deus nos renova, ao mesmo tempo em que confronta nossos ídolos pessoais e culturais, traz luz ao nosso caminho e nos equipa para nosso serviço neste mundo.
Assim, ver a Bíblia como a Palavra de Deus envolve deleitar-se nela, memorizá-la e viver por ela. Quando Jesus foi tentado por Satanás, respondeu com passagens bíblicas que tinha na memória. Paulo, em sua Epístola aos Colossenses, adverte os crentes a deixarem a palavra de Cristo “habitar” abundantemente em si.  Já o evangelho de João mostra a dinâmica trinitária do viver pela palavra do Filho de Deus, quando diz que o Espírito, enviado aos crentes, glorificará Cristo. Deleitar-se e viver pela Palavra de Deus é algo extremamente prático e tem a ver com nossas finanças, família e até mesmo nossos corpos. No entanto, não se deve entrar por tal caminho em busca de sucesso neste mundo, mas, sim, da mortificação de nossa velha criatura e para a nova vida realizada pelo Espírito Santo.
Desta forma, podemos ler a Bíblia confiantemente, sabendo que Deus age de forma poderosa através de sua Palavra, por meio da adoração comunitária, em meio à oração, à memorização, ao ensino e ao testemunho. Não temos, necessariamente, que dominar plenamente a Bíblia para, então, torná-la relevante em nossas vidas. Pelo contrário: através das Escrituras, o Senhor nos abre um novo lugar de habitação – um local de comunhão com Cristo em um caminho que conduz ao amor a Deus e ao próximo.
Nossa jornada rumo à santificação não termina nesta vida; assim, também, não é neste mundo que finda nossa jornada de meditação nas Escrituras. Lutamos contra elas, muitas vezes, quando nos diz o que não queremos ouvir. Mas elas também confirmam e edificam nossa nova identidade em Cristo. Em tudo isso, o valor da Palavra de Deus é inesgotável, porque o Espírito usa a Escritura para testificar de Cristo, que é o Verbo enviado pelo Pai. Quando lemos a Bíblia como Escritura divinamente inspirada, não somos os dominadores, mas os dominados – e, por meio dela, recebemos do Deus Trino o seu fôlego de vida.  (Tradução: Élidi Miranda)
Fonte:Revista Cristianismo Hoje 

Remorso ou arrependimento?

Opinião 
Uma das coisas mais libertadoras da fé cristã é a possibilidade de jogar sobre a cruz erguida no Calvário todo e qualquer peso dos erros impossíveis de serem reparados.
Remorso e arrependimento são constantemente confundidos. Mas, como diferenciar um do outro? E como reconhecer aquele que nos dói mais? Tais questionamentos me foram apresentados por uma pessoa que estava sofrendo muito por ter praticado atos reprováveis no meio religioso em que vivia. Não sabia o que dizer na hora, mas assumi o compromisso de pensar a respeito. Com o assunto na mente, foi impossível deixar de lembrar o que ocorreu com Pedro e Judas Iscariotes, dois discípulos de Cristo mencionados nos evangelhos. Os dois, cada um ao seu modo, traíram seu Mestre – e tiveram reações totalmente diferentes diante das consequências do que fizeram.
É importante lembrar que há muitos arrependimentos que giram apenas em torno do sentimento ruim que nos acomete quando alguém que amamos ficou magoado conosco. Então, nos “arrependemos” apenas para ficar bem com o ofendido. Não há nenhum convencimento intrínseco de que aquele comportamento não devia ter acontecido – o que existe é apenas um mal estar pelo afastamento da pessoa ferida. E o lamento, assim como o pedido de desculpas ou perdão, é apenas a tentativa de reatar um relacionamento interrompido. Esse tipo de atitude não é nem arrependimento e nem remorso: é só um jeito de tentar manter um relacionamento a qualquer custo.
Falo aqui em relação ao arrependimento e remorso que são marcados pelo sofrimento horroroso e intenso. O mundo fica pequeno para o tamanho de tal angústia; não se tem para onde ir e, muito menos, como fugir. O que diferencia um do outro não é a quantidade de dor – nas duas situações, há o lamento e o reconhecimento de que o ato praticado não deveria ter acontecido. A diferença principal é a forma como se lida com a culpa oriunda do mal praticado. Neste sentido, Judas Iscariotes e Pedro nos ajudam muito.
Diante da condenação de Jesus, Judas reconheceu que traiu um inocente. Ato contínuo, ele resolve devolver às autoridades o dinheiro recebido como pagamento por ter levado os guardas até Cristo. Contudo, as trinta moedas de prata, consideradas preço de sangue, não foram aceitas de volta. Então, o traidor atira o dinheiro contra os pagantes e, desesperadamente, coloca fim à sua angústia de viver com o peso de ter feito o que não devia tirando a própria vida. Ele quis reparar seu erro, primeiramente, sofrendo o prejuízo pelo dinheiro devolvido; depois, tentou pagar com os próprios recursos pelo mal causado. Não conseguiu, simplesmente porque não havia como pagar pelo dano que causara.
Pedro, por sua vez, também sofreu pelo que fez. E muito. Ele chorou de maneira amarga quando seu olhar se encontrou com os olhos amorosos de Cristo. Naquela madrugada em Jerusalém, é possível que Pedro também tenha desejado não estar vivo para fazer o que fez. Afinal, era melhor morrer do que cometer o mal contra aquele que mais o tinha amado. Mas não há, no comportamento de Pedro, nada que indique que ele tenha tentado pagar pelo mal que havia feito. O discípulo faltoso devia saber que nada neste mundo, humanamente falando, poderia apagar as consequências de sua ofensa.
Contudo, Pedro não dá cabo da própria vida. E resolve voltar às redes de pesca, sem saber que logo haveria um novo encontro com Jesus. Ali, na praia, Pedro reconhece que Cristo é o Todo-poderoso que sabe todas as coisas e que ele, o discípulo regenerado, pouco tem a oferecer. Nestas condições, o Filho de Deus o aceita e delega a ele a missão mais importante na história do cristianismo: a continuidade da fé cristã e o cuidado para com os fiéis.
Há erros irreparáveis que cometemos na vida. Todos estamos sujeitos a eles. E há coisas que praticamos, das quais nos arrependemos, que não podem ser refeitas. Sobra, então, o peso dos danos – os que infligimos aos outros e os que causamos a nós mesmos. Remorso é a condenação de ficar remoendo o preço impossível de pagar. Ninguém suporta viver assim sem causar danos para si mesmo. Mas uma das coisas mais significativas e libertadoras da fé cristã é a possibilidade que temos de jogar sobre a cruz erguida no Calvário todo e qualquer peso dos erros impossíveis de serem reparados. Arrependimento é o lamento mental, físico e emocional de que tal ato não deveria ter sido praticado; é o sofrimento de todo o ser, de tal forma que não há mais o desejo de que tal comportamento volte a acontecer. E o reconhecimento de que, no sacrifício vicário de Cristo na cruz, o preço foi pago e o saldo da dívida, zerado. A única energia gasta é para a possibilidade de uma mudança radical.
 Fonte:Revista Cristianismo Hoje Esther Carrenho

Teste: "Hackers do bem" da UNB violam urna eletrônica


Estudantes de Computação da UNB durante testes públicos de Segurança do Sistema Eletronico de Votação do Tribunal Superior Eleitoral
Foto: O Globo / Givaldo Barbosa
Estudantes de Computação da UNB durante testes públicos de Segurança do Sistema Eletronico de Votação do TTSE- O Globo / Givaldo Barbosa
Um grupo de quatro especialistas da Universidade de Brasília (UnB) encontrou uma lacuna na segurança das urnas eletrônicas, em teste promovido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os pesquisadores do Centro de Informática e do Departamento de Computação da UnB conseguiram decifrar códigos da urna e identificaram a ordem dos votos registrados no equipamento. Se o mesmo grupo tivesse em mãos os nomes dos eleitores que votaram na urna, em ordem cronológica, poderia indicar quem votou em que candidato. Com a descoberta, o TSE foi obrigado a criar novos obstáculos para impedir que os dados da urna possam ser descriptografados.(O Globo)

Demóstenes pediu dinheiro a Cachoeira, diz PF


Gravações da Polícia Federal revelam que o senador Demóstenes Torres (GO), líder do DEM no Senado, pediu dinheiro e vazou informações de reuniões oficiais a Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de chefiar a exploração ilegal de jogos em Goiás. Relatório com as gravações e outros graves indícios foi enviado à Procuradoria Geral da República em 2009, mas o chefe da instituição, Roberto Gurgel, não tomou qualquer providência para esclarecer o caso.  O relatório, produzido três anos antes da deflagração da Operação Monte Carlo, escancara os vínculos entre Demóstenes e Cachoeira.
Numa das gravações, feitas com autorização judicial, Demóstenes pede para Cachoeira “pagar uma despesa dele com táxi-aéreo no valor de R$ 3 mil”. Em outro trecho do relatório, elaborado com base nas gravações, os investigadores informam que o senador fez “confidências” a Cachoeira sobre reuniões reservadas que teve no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Parlamentar influente, Demóstenes costuma participar de importantes discussões, sobretudo aquelas relacionadas a assuntos de segurança pública. (Informações de O Globo)