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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Canto coral pode auxiliar no tratamento do mal de Parkinson

Monika foi diagnosticada com mal de Parkinson quase nove anos atrás, e desde então integra o coral Sing for Joy, grupo fundado em 2003, com vista especificamente a pacientes da doença neurológica progressiva.

"Eu perco logo a voz quando o Parkinson está forte. Cantar me ajuda a projetar, mantém meus músculos exercitados". A moléstia atrofia os músculos, e como a voz "é como qualquer músculo, se você não trabalhar, ela vai embora", explica Monika.

Surpreendentemente, realizou-se bem pouca pesquisa científica para verificar testemunhos reais, como esse. Uma exceção é o Centro de Pesquisa em Artes e Saúde Sydney De Haan, sediado na Inglaterra: desde 2005 seus integrantes promovem o valor do canto para bem-estar.

"Aqueles que trabalham na medicina e refletem sobre questões de saúde do ponto de vista médico não têm considerado realmente o papel que as atividades criativas podem ter para as pessoas, em relação à sua saúde", aponta Stephen Clift, diretor do centro.

Medo de perder o ar

No momento, a instituição se prepara para embarcar num estudo de grande porte sobre o papel do canto para as pessoas com moléstias respiratórias. Com esse fim, serão aplicadas técnicas padronizadas de avaliação para medir função pulmonar, padrões de respiração e níveis gerais de atividade antes e depois de um curso de canto.

Clift espera ser capaz de provar que os elementos de controle respiratório envolvidos no ato de cantar podem ajudar os pacientes a lidar com a própria condição e – muito importante – administrar os níveis de estresse.

"A falta de ar pode ser muito angustiante e assustadora, assim, eles têm que aprender a lidar com ela. Acreditamos que cantar possa dar confiança às pessoas para fazer mais do que pensam."
"Hospitais cantantes"

A carência de dados científicos nesse campo não se deve apenas ao esnobismo dos pesquisadores, ressalva Clift. "Artistas criativos como músicos e pintores têm um pouco de preconceito contra pensar sobre o que fazem, de uma perspectiva científica. Trata-se, em grande parte, de aproximar duas áreas da vida consideradas distintas."

Há 25 anos Wolfgang Bossinger trabalha como musicoterapeuta em hospitais psiquiátricos da Alemanha. Incentivado pelo espantoso sucesso do coro que formara em 2006, em seu próprio hospital, ele fundou, três anos mais tarde, a rede internacional Singende Krankenhäuser (Hospitais cantantes). Atualmente 11 hospitais certificados da Alemanha mantêm corais de pacientes, e este ano será aberto um na Romênia, assim como o primeiro na Áustria.

"Formar corais nos permite criar uma rede social. Isso ajuda as pessoas a não recairem no isolamento, após saírem do hospital, e a se sentirem conectadas com esses grupos", explica Bossinger.

Esse aspecto socializante é especialmente poderoso para os que sofrem de doenças como o mal de Parkinson ou a esclerose múltipla, que costumam se confinar entre as quatro paredes do lar, isolando-se da sociedade – um fato que, por sua vez tende a acelerar a degeneração de seu estado.

Também prevenção

Bossinger acrescenta que a atividade coral se provou especialmente vantajosa na reabilitação de pacientes femininas de câncer. "Descobrimos que cantar as ajuda a lidar com a aflição. "O coro forneceu, ainda, um fórum onde as mulheres se encontram e podem compartilhar sua dor emocional, e "elas ficam muito mais fortes no nível emocional".

Mas o canto não tem valor apenas para os que já padecem de uma moléstia, sublinha Günter Kreutz, professor de musicologia sistemática na Universidade Carl von Ossietzky, em Oldenburg. Ele publicará em 2011 um livro sobre música, saúde e bem-estar, pela primeira vez combinando pesquisas nos campos da música, psicologia e musicoterapia.

"Quem aprendeu um instrumento ou dança regularmente tende menos a desenvolver doenças cerebrais degenerativas, como Alzheimer ou demência. Assim, há indícios iniciais de que, a longo prazo, atividades culturais podem trazer benefícios significativos à saúde e reduzir bastante os riscos à mesma", declara o professor Kreutz.
Benefícios médicos à parte, cantar permanece sendo uma atividade prazerosa e universal, lembra Bossinger. "Originalmente, em todas as culturas, a música era algo que envolvia a todos." Segundo o musicoterapeuta, um estudo provou que os corações daqueles que cantam um mantra em grupo, batem juntos.

"Quando se canta junto, não há apenas uma vibração emocional conjunta, é toda a fisiologia, os corpos vibrando juntos." Wolfgang Bossinger compara esse fenômeno, que "nos toca tão profundamente" com um campo de ressonância numa mesma frequência.

Para uma paciente de Parkinson como Monika, estar cercada de música ajudou-a a realizar coisas que ela jamais pensara serem possíveis. "Quando toca música animada, bem rítmica, consigo dançar como antigamente, é extraordinário", comenta. "Não entendo como acontece, mas eu adoro!"
Fonte:DW

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