Os dois se formaram em economia. São netos e ex-assessores de duas das mais relevantes figuras políticas que lutaram pela volta da democracia na fase final da ditadura militar - e carregam nas costas o peso dos sobrenomes ilustres. Tiveram mais encontros do que desencontros nos longos períodos que passaram pela Câmara dos Deputados. Elegeram-se governadores em seus estados de origem, terminando os mandatos com elevados índices de aprovação pública. O próximo passo de ambos é sempre uma incógnita. Mas, em Minas e em Pernambuco, não se fala em outra coisa: Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) são nomes cotadíssimos para disputar a presidência da República em 2014.
Atualmente, os dois se encontram em campos opostos em relação ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Recém-eleito senador, Aécio já se coloca como voz altiva da oposição, enquanto Campos é aliado de primeira hora do governo petista. Mas a história de ambos mostra que esta situação não passa de mera circunstância. Foi assim com os avôs famosos, no fim da ditadura militar. Enquanto Tancredo Neves mantinha uma posição moderada em relação aos militares, Arraes, aliado de comunistas, era preso e buscava o exílio para não ser obrigado a cumprir pena por subversão. Mas, quando o regime estremeceu, os dois subiram juntos no palanque para lutar pelas eleições diretas e, depois, pela eleição de Tancredo no Colégio Eleitoral.
Foi neste palco que os netos Aécio e Campos se conheceram e se aproximaram. A convivência mais intensa ocorreu na Câmara dos Deputados, com a surpreendente atuação do socialista Campos a favor da eleição do tucano Aécio para a presidência da Casa, em 2001. Por defender o princípio da proporcionalidade, Campos fez parte da articulação de uma aliança com o PMDB e fechou com Aécio uma carta de compromissos para ele ter também o apoio dos deputados que faziam oposição ao governo Fernando Henrique. Aécio foi eleito e cumpriu a carta integralmente.
Quando assumiram os governos de Minas e Pernambuco (Aécio primeiro, em 2002, e Campos, em 2006), passaram a vender o mesmo discurso: a ideia de gestão pública inspirada em práticas da iniciativa privada, principalmente por meio da adoção de indicadores das políticas públicas e definição de metas de governo. Uma aproximação ainda maior ocorreu em função das reuniões do Conselho Deliberativo da Sudene, da qual ambos faziam parte. A afinidade permitiu uma troca de apoio pontual, acertada na eleição da prefeitura de BH, em 2008. Aécio apoiou informalmente Márcio Lacerda, abrigado no PSB de Campos. Em troca, dois anos depois, o PSB apoiou a eleição do tucano Antonio Anastasia ao governo de Minas.
Thiago Herdy, em O Globo
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