O que fazer,
Maiakóviski
O que fazer?
Se eles comem ratos, arrotam felicidade, e nem se arriscam a levantar os olhos?
Nada é gritado nas ruas.
Não há revoluções, protestos, mudanças...
Nada!
Os jovens possuem cabelos do espaço e metal nos lábios e narizes.
Bitolados eles seguem, zumbizando pelos esgotos pútridos da cidade.
O que esperar dessa falange alienada?
Eu,
não tenho pernas
não tenho voz
não tenho alma.
-Vamos falar sobre o caos
que caos?
Tudo se faz neutro e vazio diante dos meus olhos.
Onde estão os companheiros de dor?
Fugiram sem mim para a batalha vã?
Esqueceram-me na correria!
Eu,
tenho olhos marejados
mãos escarlate
Pintadas com o sangue de meus companheiros fracos de memória
E agora, dizem que os tiranos voltam!
Que besteira.
Ouçam-me crianças loucas
Os tiranos não voltam pelas montanhas as nossas costas
Nem pelos mares,
Nem pelos ares, com seu aviões supersônicos.
Os tiranos não voltam, pois daqui nunca sairam.
Sempre fincados na terra
Envenenando nosso solo
Envenenando nosso recém nascidos
Matando-nos aos poucos
de raiva
de dor
Uma tristeza aterradora.
Eles vivem. eu vos digo.
Eles vivem.
E o meu sangue que circula por conta de um descuido infantil
Agora ferve,
mergulhado numa tormenta silencioisa chamada angustia.
Como encerrar um poema amargo,
Como encerrar uma vida infudada;
Sem ponto, nem virgula
Sem alegria, e sem lamurias?
Melhor seria por um balaço em tudo
e o poema se encerraria por si só
Lentamente banhado em sangue.
Autor do Poema
César Philippini
é poeta e estudante.
Vencedor do Prêmio
Literatura no Celular 2009,
da Fliporto.Participou do
livro Contos de Oficina
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