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terça-feira, 11 de maio de 2010

De Meisinha à Veneno do Forró




Depois de presenciar a pífia apresentação de uma banda de forró estilizado, denominada "Limão com Mel", nesta antevéspera de São Pedro (27.06.2008) no Pátio de Eventos de Caruaru-PE, cheguei à conclusão que devo ter atingido precocemente a senilidade.
Na verdade, a mistura do limão com o mel, constitui-se num eficaz remédio contra a tosse e a gripe, como bem recorda meu querido Pai ao discorrer sobre as meisinhas do "Major Sinval" que o curaram de algumas enfermidades em meio à difícil década de 40, época em que faltavam recursos, remédios e tantas outras coisas. Para mim, a serventia da mistura do limão com o mel se encerra aí.
Acredito que devo ter atingido a senilidade na medida em que demonstrei total intolerância à música tocada pela banda Limão com Mel, que mistura acordes de guitarra, gritos desafinados de um cidadão que acredita ser tenor, e uma grande quantidade de pessoas semi-nuas encenando uma coreografia sofrível. A senilidade está devidamente diagnosticada no momento em que fui censurado por amigos ao emitir meu juízo de valor acerca do espetáculo ali encenado. Beneficiei-os imediatamente com minha ausência, sob os protestos silenciosos da minha companheira de alguns anos, que passou, naquele momento, a também me achar senil. Peço de imediato, desculpas a todos. Acho que fiquei velho precocemente, admito.
Poucas horas antes da apresentação da banda Limão com Mel, presenciei o Pátio de Eventos local pulsar ao som do talentoso cantor Valdir Santos que foi sucedido pelo furacão Alcimar Monteiro. Naqueles momentos pude ouvir e dançar ao som do autêntico forró. Por estes dois cantores (entre alguns outros) podem repousar em paz o Pernambucano do Século Luiz Gonzaga e o incomparável Jackson do Pandeiro.
Por este fato, pude constatar que tenho verdadeira aversão a forró de banda (estilizado). Não é sem motivo. Estas bandas não nascem naturalmente como expressão da cultura local; pelo contrário, pertencem aos “empresários do forró”, que modificam composição, repertório e estilo das suas bandas, somente em busca de auferir maiores lucros. Não condeno (é o capitalismo!), mas não sou obrigado a tolerar. Está aí caracterizado o “veneno do forró”, nova mistura do "Limão com Mel" musical, que pode ser capaz de dar cabo de uma tradição nordestina.
Escrevo estas breves linhas para externar minha indignação.
Estou indignado, em virtude do “show” por mim presenciado ter sido custeado com recursos públicos (do contribuinte), ou seja, verbas que poderiam ser mais bem aplicadas no combate a fome, a pobreza, a criminalidade. Não sou contra o fomento as atividades culturais, mas naquele momento não presenciei expressão de nenhuma cultura.
Na verdade, o desperdício do dinheiro do contribuinte tem várias formas de ser coibido e apenado, pela simples leitura das disposições do Decreto-Lei 201/67 (Crimes de Responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores) e ainda, da Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa). Cabe as autoridades constituídas verificar se existem condutas a serem apuradas neste caso, medida que não cabe a mim, mero cidadão inconformado.
Por fim, finalizo este breve apontamento com uma constatação. Devo estar mesmo muito ranzinza (e senil) para me dar o trabalho de escrever um desabafo desta natureza às 4h e 40 min da manhã do dia 28.06.2008, enquanto alguns estão dormindo e outros acordados ouvindo a meisinha que virou veneno.


Dimitre Bezerra é advogado,
especialista em Direito Processual,
Mestre em Gestão Pública pela UFPE,
Consultor Jurídico de diversos Municípios.

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